Em março deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou Estatísticas de Gênero que reforçam a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Segundo o IBGE, no ano de 2019, 54,5% das mulheres com mais de 15 anos faziam parte da força de trabalho brasileira (grupo constituído por todos os brasileiros empregados ou que estão em busca de trabalho) , enquanto entre os homens essa porcentagem chega a 73,7%.
A diferença entre homens e mulheres, de quase 20%, pode ser explicada por diversos fatores, todos eles merecedores de atenção. Entretanto, um dos motivos mais relevantes é o preconceito do mercado de trabalho com mães de filhos pequenos. Amanda Reis, 28, atualmente desempregada, vivenciou no primeiro trabalho formal, após a gravidez, a discriminação sofrida por milhões de mães brasileiras diariamente. “Meu primeiro emprego foi no shopping, em um contrato de final de ano, ou seja, três meses”, declara.
O que poderia ter sido o início de uma ótima e extensa experiência, se tornou, na verdade, a primeira situação de preconceito vivenciada por Amanda no mercado de trabalho. “Quase ninguém sabia que eu tinha filho, foram descobrir só no meu último mês. E aí a gerente da loja começou uma espécie de perseguição, sempre falando sobre como ela não me contrataria, que eu poderia perder as esperanças e que eu era apenas freelancer, que nem precisava fazer amizades por lá, pois não continuaria no trabalho”, detalha Amanda.
De acordo com a mesma pesquisa divulgada pelo IBGE, apenas 54,6% das mulheres entre 25 e 49 anos com filhos com até três anos de idade estão empregadas. Dentre as mulheres da mesma faixa-etária, porém, sem filhos, a taxa de ocupação é de 67,2%. Outro indicativo da desigualdade no mercado de trabalho é a taxa de ocupação entre pais com filhos de até três anos é de 89,2%. Números que além de superarem os das mulheres com e sem filhos, superam até mesmo os de homens que não possuem filhos nesta faixa-etária, que é de 83,4%.
Rejeição
Apesar do aumento da presença de mulheres na força de trabalho, em 2012 essa porcentagem era de 51,6% e os desafios continuam presentes. Em relação à maternidade, o maior obstáculo é a crença de que a contratada não conseguirá se dedicar tendo um filho pequeno.
Segundo pesquisa realizada pelo Portal Trocando Fraldas, que entrevistou cerca de 10 mil mulheres brasileiras, 56% delas acreditam que existe uma maior dificuldade de atingir o sucesso profissional quando se tem filhos. Essa porcentagem cresce para 61% quando a pergunta é direcionada para mulheres que já são mães. Segundo o relato de Amanda, o receio demonstrado por estas mulheres têm uma motivação sólida. Ela destaca que mesmo anos após o nascimento de sua filha, as perguntas sobre maternidade continuam sendo feitas em entrevistas e que a resposta é essencial para definir o caminho de uma candidata.
“Atualmente não estou trabalhando, mas nas últimas entrevistas que fiz perguntaram se eu tinha filhos e logo depois da confirmação emendaram a pergunta sobre ter alguém para cuidar dela. Eu sempre digo que sim, que minha filha tem dez anos, porém, é perceptível que os semblantes dos entrevistadores mudam na hora. São problemas que me acompanham há anos e eu sinceramente não sei até quando vai durar, se algum dia isso irá passar”, lamenta.
Ainda segundo a mesma pesquisa, três em cada sete brasileiras, têm receio de perder o emprego por causa da gravidez. O temor é maior entre mulheres de 18 a 24 anos, que estão em começo de carreira. Dentre este grupo, o medo de perder o emprego atinge 45% das mulheres. A apreensão é tão presente que alterou os planos de maternidade de pelo menos 23% das mulheres que participaram da pesquisa.
Para Amanda, a raiz do preconceito com mães no mercado de trabalho é o machismo: “Acham que a mulher é mais sensível, mais emotiva e que a maternidade deixa a mulher ainda mais sensível, emotiva e até desatenta, porque está sempre pensando no filho. O receio deles é que a produção vai cair, que o resultado não será o mesmo ou que outra pessoa que não tem filho pode entregar mais, ter mais tempo, produtividade e foco”.
Já em relação ao futuro e ao que precisa evoluir, Amanda é direta ao destacar a necessidade de melhoria dentro das empresas e, ainda, o papel que o poder público pode desempenhar nessa evolução: “Falta as empresas desenvolverem esse lado mais empático com as mães e entender que nada mudou em relação à inteligência, produtividade e nossa capacidade de cumprir com as obrigações. Além disso, é necessário investir em políticas públicas para que as mães se sintam incluídas, por exemplo, oferecendo espaços para que os filhos dessas mães sejam cuidados enquanto estão no trabalho”, finaliza.
Capacitação
Em meio a tantos desafios, uma das melhores opções para adentrar ou retornar ao mercado de trabalho é a capacitação. Com o fortalecimento do currículo, a trabalhadora se mostra qualificada e, ainda, demonstra a vontade de continuar evoluindo e aprendendo, tendo como objetivo tornar o trabalho ainda melhor.
Com o crescimento da oferta de cursos a distância e gratuitos, como os oferecidos pelos Cotec, as trabalhadoras têm mais possibilidades de capacitação e qualificação. Ao consolidar o currículo, elas abrem para si mesmo novos caminhos repletos de oportunidades, além de estarem melhor preparadas para os desafios futuros.